O calor excessivo e a falta de chuvas tem castigado a safra brasileira de soja em muitos estados. As últimas avaliações feitas por consultorias públicas e privadas apostam em um volume ainda que chegue aos 90 milhões de toneladas ou mais, pórém, os relatos de produtores já são de perdas de produtividade e sérios problemas com o desenvolvimento das plantas.
Aproximadamente de 30% a 40% das lavouras brasileiras de soja estão em fase de floração e enchimento de grãos, estágio onde a presença da água é determinante. Segundo Camilo Motter, economista da Granoeste Corretora, cerca de 40% da área plantada com soja nesta temporada vêm sofrendo com essas condições de clima e são regiões de ciclo mais tardio, o que pode causar um resultado de perdas ainda mais significativo.
"Produtores vêm relatando que as lavouras tardias podem ter perdas acentuadas, muitas regiões estão sem chuvas há cerca de 20 dias, outras há 10. E o maior transtorno é o calor excessivo, que provoca a rápida evaporação dos estoques de umidade ainda remanescentes no solo", explicou Motter.
Como explicou o gestor técnico da Cooplantio, Dirceu Gassen, nessa fase as plantas precisam de 5 a 9 mm de água por dia para ter um bom desenvolvimento e para manter a temperatura das folhas, que deve ficar abaixo dos 40ºC. Entretanto, as temperaturas que vêm sendo registradas já superam esse número.
“A temperatura da folha deve ficar em torno de 26°C, quando falta água não há transpiração e a temperatura chega a 40°C sendo letal para a planta. Então, aparecem manchas nas plantas, que é a queima por falta de água”, diz o gestor.
De acordo com as últimas previsões climáticas, essa seca prolongada e os chamados veranicos que castigam estados como Mato Grosso do Sul, Goiás, Minas Gerais, São Paulo, Bahia e Rio Grande do Sul devem ser revertidos somente a partir do dia 15 de fevereiro.
Na região Sul do país, há uma bolha de calor localizada no Paraguai, Oeste de Santa Catarina e Paraná e no Rio Grande do Sul, criando um sistema de alta pressão bastante forte. "As projeções climáticas não são nada animadoras. Portanto, teremos outros rounds pela frente", diz o economista da Granoeste. "O problema é sério e, se não chover logo, as perdas vão representar um corte expressivo nos volumes de produção", completa.
Ainda segundo Gassen, as perdas irão variar pelo Brasil de acordo com o estágio de desenvolvimento da soja. No sul do Brasil, a fase é de enchimento de grãos, e essa é a fase crítica. "Quem já passou dessa fase vai garantir o número de grãos, mas não o peso deles, haverá grãos menores. Onde não se formou o grão ainda poderá haver uma possibilidade de queda mais acentuada", explica o representante da Cooplantio. Com isso, a produtividade, até esse momento, é bastante diferente entre as regiões, com registros de 20 a 30 sacas em hectares em alguns locais, contra 60 a 70 sacas em outros.
Mercado - Apesar de as perdas já estarem consolidadas em muitas regiões, o impacto disso ainda é limitado para os preços no mercado brasileiro. Porém, de acordo com Camilo Motter, "a tendência é de que que acabe resultando em peso maior na formação dos preços nos proximos dias, na medida em que os relatos confirmarem perdas mais acentuadas.
As cotações da soja permanecem sustentadas pelo quadro de fundamentos, que englobam também a escassez de soja nos Estados Unidos e uma demanda mundial extremamente firme e aquecida. Dessa forma, as perspectivas, segundo o analista, são ainda melhores para os preços da soja no Brasil, estimulados também pela tendência de alta para o dólar. "Eu acredito que os preços continuem remuneradores", afirma Motter.
O que deve exigir a atenção dos produtores nesse momento também é a logística e a parte de sua renda que pode ser perdida com a defasada infraestrutura brasileira para o escoamento de sua produção agrícola.
"Esse ano está se administrando melhor o caos logísitco. O ano passado foi a gota d'água, já sofremos com esse problema há anos. Assim, os portos adotaram um sistema de senhas, de agendamento de descargas. Essa administração também incluiu a abertura mais cedo para a recepção e liberação das cargas, isso tem ofuscado o grande drama logístico que temos vivido", diz Motter.
Dessa forma, a orientação do analista é de que o produtor fuja da pressão para de oferta que o mercado tem a partir de fevereiro e se estende até maio. "Mesmo com a oferta safra cheia chegando, podemos ter bons momentos pela frente", acredita. Neste momento, os produtores se mantêm um pouco mais recuados, o fluxo de comercialização diminui e ele espera por melhores oportunidades de venda.
Nos links abaixo, veja a entrevista de Camilo Motter e Dirceu Gassen na íntegra:
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