As expectativas para uma safra de soja recorde na América do Sul na temporada 2012/13 começam a ser ameaçadas por alguns problemas climáticos no Brasil e na Argentina. A colheita já começou nas lavouras brasileiras, concluída em cerca de 1,5% da área até o momento, e alguns importantes estados produtores já começam a registrar perdas em função de adversidades climáticas.
"A safra brasileira vinha em condições consideradas boas e excelentes. Porém, nesse momento, de início de colheita, temos sentido que em estados como Mato Grosso, grande produtor, onde a área colhida deveria estar entre 7 e 10%, está entre 3 e 5%, com chuvas diárias atrapalhando a entrada das máquinas nos campos, o que já começa a refletir em perdas de produtividade", diz Vlamir Brandalizze, consultor de mercado da Brandalizze Consulting.
As estimativas iniciais apontavam que o Brasil poderia produzir até 86 milhões de toneladas. Entretanto, agora projeções de instituições públicas e privadas apontam pouco mais acima de 80 milhões. Para Brandalizze, a colheita brasileira deverá ficar entre 80 e 83 milhões de toneladas. Já a projeção da Céleres Consultoria é de 80,8 milhões, do USDA de 81 milhões e a da Conab de 82 milhões de toneladas. Porém, alguns desses números são resultados de levantamentos feitos em um período em que as condições climáticas eram favoráveis e podem, portanto, não refletir a realidade atual.
No início do plantio e durante estágios de desenvolvimento, as lavouras brasileiras sofreram com chuvas irregulares e mal distribuídas, condições que acabaram obrigando o replantio em muitas regiões. Agora, na época da colheita, precipitações excessivas atrapalham o bom desempenho do processo e já começam a preocupar os produtores. Por outro lado, no Rio Grande do Sul e no Mato Grosso do Sul, o que preocupa é o clima seco que já atinge as lavouras há vários dias. No Paraná e em Goiás, porém, o clima é bom e favorece os trabalhos de campo.
"O risco maior está justamente quando temos um clima irregular e diversos outros problemas associados como o ataque intenso de pragas e doenças, exatamente como neste ano", disse o presidente da Aprosoja Brasil, Glauber Silveira, em um artigo publicado no Notícias Agrícolas.
Mato Grosso - No Mato Grosso, maior estado brasileiro produtor de soja trazendo para a safra nacional 24.011 milhões de toneladas, o que preocupa nesse momento é o atraso da colheita. As lavouras vêm recebendo volumosas chuvas diariamente e, segundo produtores, há até mesmo algumas áreas inundadas. Em alguns casos, os talhões já indicam perdas de produtividade por conta do excesso de umidade.
Segundo Carlos Bernardes, delegado da Aprosoja Mato Grosso, afirma que a soja precoce vem registrando um rendimento de cerca de 48 a 50 sacas por hectare. Os números indicam ligeiras perdas na produtividade e também na qualidade do grão. "A perda na produtividade vai ser a combinação da seca em dezembro e do excesso de chuvas na colheita agora em janeiro", afirma Bernardes.
Mato Grosso do Sul - No Mato Grosso do Sul, a colheita também deverá começar a tomar fôlego e ritmo nessa semana e já está finalizada em 5% da área. Entretanto, as plantações do estado sofreram com uma séria estiagem. Em função da falta de umidade, já se registra uma produtividade menor do que o esperado, com cerca de 40 sacas/hectare. O estado deverá produzir, segundo a Conab, 6.051 milhões de toneladas.
Paraná e Goiás - No Paraná e em Goiás, as condições climáticas são favoráveis, as lavouras se desenvolveram bem e a produtividade vem em linha com as expectativas. A projeção para esses dois estados é de que produzam boas e volumosas safras de soja. A produção paranaense deverá ser de 15 milhões de toneladas e a de Goiás de 9 milhões de toneladas.
No Paraná, segundo Brandalizze, as condições da colheita são as que mais se aproximam da normalidade. O rendimento está sendo registrado em aproximadamente 50 sacas por hectare. De acordo com o consultor, no sudoeste do estado a colheita já está concluída em aproximadamente 10% da área, caminhando normalmente. No estado todo, os trabalhos estão concluídos em 5%.
No sudoeste goiano, o ritmo da colheita também é bom e os trabalhos já foram concluídos em cerca de 10% da área. As condições climáticas também são favoráveis e os índices de produtividade estão entre 45 e 55 sacas por hectare.
Porém, em algumas outras regiões de Goiás, em que as lavouras sofreram com a estiagem, o potencial produtivo de lavouras mais precoces foi afetado e perdas começarão a ser registradas.
Rio Grande do Sul - No Rio Grande do Sul, onde deverão ser produzidas 12.193 milhões de toneladas de soja, durante todo o processo as condições climáticas foram favoráveis e as lavouras vinham registrando excelentes condições. Entretanto, a recente falta de chuvas já começa a preocupar.
Tecnologia - Por outro lado, apesar do clima adverso na maioria dos estados produtores, o investimento dos sojicultores brasileiro em tecnologia foi maior e melhor nesta temporada e isso será o fator que deverá limitar prejuízos maiores na safra 2012/13.
"As sementes foram de melhor qualidade, a adubação foi adequada, o tratamento sanitário foi feito dentro do recomendado pelos técnicos. Toda a safra foi conduzida de maneira muito eficiente, isso ameniza um pouco as perdas", afirma o consultor.
Mercado - Essa irregularidade da safra brasileira de soja, bem com as incertezas que a rondam, deverão o quanto antes começar a ser refletidas pelo mercado, não só internacional como interno também.
A oferta nos Estados Unidos, a única disponível no mercado atualmente, é bastante ajustada e cerca de 90% do volume estimado para exportações já foram comercializados. Diante disso, a produção sulamericana tem sido esperada com muita ansiedade e os países consumidores logo deverão voltar seus olhos para Brasil, Argentina e demais países produtores na América do Sul.
"O mercado vai começar a sentir que não está sobrando soja e isso pode refletir em uma pressão de altas nas cotações, trazendo os números um pouco mais acima do que estavam trabalhando na semana passada. Já esperamos que os preços venham para até US$ 14,50 por bushel, ou acima, e se continuar esse período seco no Rio Grande do Sul e na Argentina, esperamos que o mercado supere a marca dos US$ 15 para condizer com a realidade da oferta", projeta Brandalizze.
No mercado interno, o impacto também deverá ser sentido, principalmente no momento em que as indústrias e consumidoras sentirem dificuldade em realizar suas compras diante de uma oferta muito escassa. A demanda terá, portanto, que pagar mais caro para conseguir o grão para trabalhar nos períodos adequados.
Hoje, os preços da soja negociados nos portos brasileiros são consideravelmente menores do que os praticados entre maio e setembro de 2012, quando as cotações atingiram patamares historicamente altos em Chicago por conta da quebra nos EUA. A diferença chega a ser de R$ 10 a menos.
Porém, a comercialização antecipada nessa safra foi muito expressivas e os sojicultores aproveitaram bons preços para travar suas vendas de soja que, em alguns casos, foram fechadas a R$ 80 saca no porto, para entrega em março. Dessa forma, os produtores serão capazes de segurar um pouco mais o restante de sua oferta a espera de preços melhores, já que a tendência é de que subam diante dos fundamentos apertados de oferta e demanda. Este cenário poderia, até mesmo, evitar ou limitar uma pressão de venda de soja logo na colheita, como explicou o consultor.
Fonte: Notícias Agrícolas // Carla Mendes
"A safra brasileira vinha em condições consideradas boas e excelentes. Porém, nesse momento, de início de colheita, temos sentido que em estados como Mato Grosso, grande produtor, onde a área colhida deveria estar entre 7 e 10%, está entre 3 e 5%, com chuvas diárias atrapalhando a entrada das máquinas nos campos, o que já começa a refletir em perdas de produtividade", diz Vlamir Brandalizze, consultor de mercado da Brandalizze Consulting.
As estimativas iniciais apontavam que o Brasil poderia produzir até 86 milhões de toneladas. Entretanto, agora projeções de instituições públicas e privadas apontam pouco mais acima de 80 milhões. Para Brandalizze, a colheita brasileira deverá ficar entre 80 e 83 milhões de toneladas. Já a projeção da Céleres Consultoria é de 80,8 milhões, do USDA de 81 milhões e a da Conab de 82 milhões de toneladas. Porém, alguns desses números são resultados de levantamentos feitos em um período em que as condições climáticas eram favoráveis e podem, portanto, não refletir a realidade atual.
No início do plantio e durante estágios de desenvolvimento, as lavouras brasileiras sofreram com chuvas irregulares e mal distribuídas, condições que acabaram obrigando o replantio em muitas regiões. Agora, na época da colheita, precipitações excessivas atrapalham o bom desempenho do processo e já começam a preocupar os produtores. Por outro lado, no Rio Grande do Sul e no Mato Grosso do Sul, o que preocupa é o clima seco que já atinge as lavouras há vários dias. No Paraná e em Goiás, porém, o clima é bom e favorece os trabalhos de campo.
"O risco maior está justamente quando temos um clima irregular e diversos outros problemas associados como o ataque intenso de pragas e doenças, exatamente como neste ano", disse o presidente da Aprosoja Brasil, Glauber Silveira, em um artigo publicado no Notícias Agrícolas.
Mato Grosso - No Mato Grosso, maior estado brasileiro produtor de soja trazendo para a safra nacional 24.011 milhões de toneladas, o que preocupa nesse momento é o atraso da colheita. As lavouras vêm recebendo volumosas chuvas diariamente e, segundo produtores, há até mesmo algumas áreas inundadas. Em alguns casos, os talhões já indicam perdas de produtividade por conta do excesso de umidade.
Segundo Carlos Bernardes, delegado da Aprosoja Mato Grosso, afirma que a soja precoce vem registrando um rendimento de cerca de 48 a 50 sacas por hectare. Os números indicam ligeiras perdas na produtividade e também na qualidade do grão. "A perda na produtividade vai ser a combinação da seca em dezembro e do excesso de chuvas na colheita agora em janeiro", afirma Bernardes.
Mato Grosso do Sul - No Mato Grosso do Sul, a colheita também deverá começar a tomar fôlego e ritmo nessa semana e já está finalizada em 5% da área. Entretanto, as plantações do estado sofreram com uma séria estiagem. Em função da falta de umidade, já se registra uma produtividade menor do que o esperado, com cerca de 40 sacas/hectare. O estado deverá produzir, segundo a Conab, 6.051 milhões de toneladas.
Paraná e Goiás - No Paraná e em Goiás, as condições climáticas são favoráveis, as lavouras se desenvolveram bem e a produtividade vem em linha com as expectativas. A projeção para esses dois estados é de que produzam boas e volumosas safras de soja. A produção paranaense deverá ser de 15 milhões de toneladas e a de Goiás de 9 milhões de toneladas.
No Paraná, segundo Brandalizze, as condições da colheita são as que mais se aproximam da normalidade. O rendimento está sendo registrado em aproximadamente 50 sacas por hectare. De acordo com o consultor, no sudoeste do estado a colheita já está concluída em aproximadamente 10% da área, caminhando normalmente. No estado todo, os trabalhos estão concluídos em 5%.
No sudoeste goiano, o ritmo da colheita também é bom e os trabalhos já foram concluídos em cerca de 10% da área. As condições climáticas também são favoráveis e os índices de produtividade estão entre 45 e 55 sacas por hectare.
Porém, em algumas outras regiões de Goiás, em que as lavouras sofreram com a estiagem, o potencial produtivo de lavouras mais precoces foi afetado e perdas começarão a ser registradas.
Rio Grande do Sul - No Rio Grande do Sul, onde deverão ser produzidas 12.193 milhões de toneladas de soja, durante todo o processo as condições climáticas foram favoráveis e as lavouras vinham registrando excelentes condições. Entretanto, a recente falta de chuvas já começa a preocupar.
Tecnologia - Por outro lado, apesar do clima adverso na maioria dos estados produtores, o investimento dos sojicultores brasileiro em tecnologia foi maior e melhor nesta temporada e isso será o fator que deverá limitar prejuízos maiores na safra 2012/13.
"As sementes foram de melhor qualidade, a adubação foi adequada, o tratamento sanitário foi feito dentro do recomendado pelos técnicos. Toda a safra foi conduzida de maneira muito eficiente, isso ameniza um pouco as perdas", afirma o consultor.
Mercado - Essa irregularidade da safra brasileira de soja, bem com as incertezas que a rondam, deverão o quanto antes começar a ser refletidas pelo mercado, não só internacional como interno também.
A oferta nos Estados Unidos, a única disponível no mercado atualmente, é bastante ajustada e cerca de 90% do volume estimado para exportações já foram comercializados. Diante disso, a produção sulamericana tem sido esperada com muita ansiedade e os países consumidores logo deverão voltar seus olhos para Brasil, Argentina e demais países produtores na América do Sul.
"O mercado vai começar a sentir que não está sobrando soja e isso pode refletir em uma pressão de altas nas cotações, trazendo os números um pouco mais acima do que estavam trabalhando na semana passada. Já esperamos que os preços venham para até US$ 14,50 por bushel, ou acima, e se continuar esse período seco no Rio Grande do Sul e na Argentina, esperamos que o mercado supere a marca dos US$ 15 para condizer com a realidade da oferta", projeta Brandalizze.
No mercado interno, o impacto também deverá ser sentido, principalmente no momento em que as indústrias e consumidoras sentirem dificuldade em realizar suas compras diante de uma oferta muito escassa. A demanda terá, portanto, que pagar mais caro para conseguir o grão para trabalhar nos períodos adequados.
Hoje, os preços da soja negociados nos portos brasileiros são consideravelmente menores do que os praticados entre maio e setembro de 2012, quando as cotações atingiram patamares historicamente altos em Chicago por conta da quebra nos EUA. A diferença chega a ser de R$ 10 a menos.
Porém, a comercialização antecipada nessa safra foi muito expressivas e os sojicultores aproveitaram bons preços para travar suas vendas de soja que, em alguns casos, foram fechadas a R$ 80 saca no porto, para entrega em março. Dessa forma, os produtores serão capazes de segurar um pouco mais o restante de sua oferta a espera de preços melhores, já que a tendência é de que subam diante dos fundamentos apertados de oferta e demanda. Este cenário poderia, até mesmo, evitar ou limitar uma pressão de venda de soja logo na colheita, como explicou o consultor.
Fonte: Notícias Agrícolas // Carla Mendes