Em uma nota divulgada no final da última semana, o governo da Argentina, mais uma vez, denunciou os produtores do país que vêm armazenando grãos, principalmente soja, como forma de tentar se proteger da elevada inflação local. Para um oficial do governo, os agricultores que optam por essa estratégia fazem com que ambos os lados percam, agricultores e governo. Essa é uma discussão que vem ganhando peso já há alguns meses, quando autoridades ameaçaram restringir o crédito de sojicultores que seguissem estocando sua produção.
A nação sulamericana é pioneira na utilização dos chamados silo bags e a terceira maior produtora e exportadora mundial da oleaginosa e hoje sofre com uma inflação anual estimada pelo governo em 24%, mas vista como muito mais alta por especialistas.
"Grupos de produtores têm, oportunamente, começado a especular contra o governo aconselhando os produtores a segurarem os grãos no mesmo momento em que os preços estão caindo. Isso cria perdas para os dois lados", diz Jorge Capitanich, chefe de gabinete do país, à agência internacional de notícias Reuters. "Os agricultores são livres para fazer o que quiserem, mas também são responsáveis por cada uma de suas ações", completou.
Atualmente, as transações com exportações de soja em grão na Argentina são taxadas pelo governo federal em 35%, com as conhecidas "retenciones". Isso e mais um controle cambial existente no país faz com que os produtores tenham de converter a renda obtida com essas vendas para a moeda local, o peso, que se mantém extremamente desvalorizada. E esse é outro importante fator que motiva os sojicultores a reterem sua produção.
Assim, o agronegócio é uma fonte chave para as reservas cambiais do Banco Central argentino, altamente utilizadas para estancar os problemas vividos pela "doente" terceira economia da América Latina. Repetidos defaults de títulos soberanos e um pesado controle comercial têm empurrado os níveis do produto interno bruto para o território negativo, enquanto a inflação segue avançando.
Essa falta de acordo entre o setor agropecuário e o governo federal argentino já vem desde 2008, quando fortes protestos vieram à tona contra as políticas fiscais de Cristina Kirchner e se aprofundou depois que o banco estatal cortou o crédito aos produtores que estocavam soja e milho em meados de outubro a novembro do ano passado.