Depois uma sessão marcada pela extrema volatilidade, a soja encerrou o pregão desta sexta-feira em território misto, com as cotações predominantemente negativas. Apenas o vencimento julho fechou positivo, cotado a US$ 13,43 por bushel, com alta de 3 pontos. O contrato chegou a subir mais de 14 pontos durante a sessão de hoje. Os demais meses encerraram o dia perdendo entre 6,25 e 11,50 pontos. O milho e o trigo fecharam a semana no vermelho, com o trigo perdendo quase 30 pontos nos principais vencimentos.
Apesar dessa tentativa de rebote da soja no meio-pregão de hoje, os preços voltaram a recuar. Isso acontece uma vez que a relação entre o macrocenário e o mercado de commodities agrícolas está bem estreita e a situação mostra-se muito complexa. O mercado financeiro vive dias de apreensão e incertezas e pressiona intensamente as agrícolas.
Nesta sexta-feira, as expectativas foram agravadas com dados negativos sobre o desemprego nos Estados Unidos, com a criação de postos de trabalho bem abaixo do esperado, o crescimento aquém do esperado na China e a crise na Europa preocupando mais com a falta de medidas eficientes e concretas que possam trazer solução aos problemas vividos pelo continente. Os focos agora são a saúde financeira dos bancos espanhois e o impasse político na Grécia.
Este cenário traz aos investidores cautela e aversão ao risco. Segundo explicou o analista de mercado da PHDerivativos Pedro Dejneka, de Chicago, o mercado de commodities agrícolas não encontra forças para "lutar" contra essa pressão vinda da macroeconomia. Paralelamente, sente fatores internos como o plantio da soja e do milho avançado nos Estados Unidos, a diminuição do ritmo de exportações e um grande volume de posições compradas na soja por parte de investidores também pesando sobre o mercado. Isso faz com que as cotações não consigam se descolar dessa pressão negativa vinda do financeiro.
Porém, mesmo diante de um momento de excesso de informações e situações - o que traz essa volatilidade registrada pelo mercado nesta sexta-feira - Dejneka afirma que "não é hora de pânico". "É momento de parar para analisar o mercado de maneira sensata e levar todos as variáveis em consideração de maneira fria, separando emoção da razão", reiterou o analista.
Na opinião de Dejneka, mesmo diante de uma pauta tão cheia, o mercado de commodities agrícolas, mais precisamente os mercados de soja, milho e trigo, tentará se descolar desse mau momento vivido pela economia mundial frente a expectativas de clima seco tanto nos Estados Unidos quanto na Europa.
"A baixa recente foi uma combinação de fatores, mas a magnitude desse recuo, principalmente a registrada na manhã desta sexta (1), foi 90% baseada no macro. Eventualmente os fundamentos (que são extremamente apertados para soja no segundo semestre e milho no primeiro), voltarão a ser protagonistas (pendendo uma completa e total tragédia macroeconômica, o que não penso que irá acontecer no curto prazo pois Bancos Centrais entrarão em ação novamente tentando sanar, de qualquer maneira possível, os problemas mais sérios)", traçou o analista.
Dejneka diz ainda que entre os fundamentos, é preciso muita atenção aos mapas climáticos dos EUA e da Europa e também nas estimativas finais sobre as áreas de plantio e as iniciais que trarão a produtividade da nova safra norte-americana. Além disso é preciso estar atento também as informações de demanda pela soja dos EUA no curto e longo prazo.
Já no cenário macroeconômico, atenções voltadas para a expressiva alta do dólar antes outras seis moedas globais e a trajetória desse movimento positivo, eleições gregas em meados de junho e o desenvolvimento da situação da Espanha e de seu sistema bancário no curto prazo.
"O momento é delicadíssimo para o mundo e toda cautela é pouca. Precisaremos de algum "choque" nos fundamentos agrícolas (clima, demanda, produção) no curto prazo para que os grãos possam se "descolar" dessa confusão atual no macrocenário", completou o analista.
Pedro Dejneka lembra ainda que há um excesso de capital nos mercados financeiros, o que pode fazer com que muitos investidores entrem no mês de junho a procura de barganhas, "colocando seu dinheiro para trabalhar novamente, após seguidas quedas no mês de maio".
Fonte: Notícias Agrícolas // Carla Mendes